sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Os teleféricos e o metrô

02/12/2011 - Monitor Mercantil

O engenheiro de transportes Sérgio Balloussier, que estuda o sistema viário do Rio há 40 anos, afirma que falta o básico: um estudo para saber a real necessidade da população do morro.

Geraldo Luís Lino - Geólogo e diretor do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa).

Algum dia, quando o Brasil tiver um sistema político mais evoluído e efetivamente democrático, em que o bem comum e os interesses maiores da sociedade ocupem o primeiro plano das políticas públicas, talvez seja possível impedir que governantes possam implementar ao seu talante projetos estapafúrdios, de duvidosos benefícios para a sociedade e contestados por uma maioria de especialistas. Nesta categoria se enquadram dois projetos viários do governador Sérgio Cabral: a expansão do Metrô e os teleféricos nas favelas.
Sobre o Metrô, é inconcebível a falta de critério do governo estadual, que alega falta de recursos para implementar as opções mencionadas como ideais pelos especialistas, nos casos das linhas 3 e 4: no primeiro, optando por uma linha de monotrilho entre Guaxindiba, em São Gonçalo (divisa com Itaboraí) e a praça Araribóia, em Niterói, excluindo o seu prolongamento até a Estação Carioca da Linha 1, via túnel submarino (ou seja, de metrô ela terá apenas o nome, pois será um trem de superfície desvinculado da rede metroviária).

No segundo, com o "puxadinho" da Linha 1 a partir da estação General Osório (Ipanema) para a Barra, em vez da ligação Carioca-Laranjeiras-Humaitá-Gávea-São Conrado-Jardim Oceânico.

Ao mesmo tempo, centenas de milhões de reais são gastos ou reservados para projetos altamente questionáveis, como os teleféricos do Alemão e da Rocinha. O primeiro, construído com recursos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), tem 3,5 km de extensão, cinco estações e capacidade para transportar 35 mil pessoas por dia. Porém, como demonstrou o RJ-TV da Rede Globo (22/11/2011), mesmo com os moradores tendo direito a duas viagens grátis por dia, a média diária de utilização tem sido de apenas 9 mil passageiros - entre outros motivos, pelo medo dos moradores locais de utilizá-lo.

Entrevistado pela reportagem, o engenheiro de transportes Sérgio Balloussier, que estuda o sistema viário do Rio há 40 anos, afirmou que faltou o básico: um estudo para saber a real necessidade da população do morro.

O custo do delirante projeto foi de R$ 210 milhões, ou R$ 60 milhões por quilômetro de linha - valor quase igual ao estimado por seus projetistas para o Maglev-Cobra, o trem de levitação magnética da Coppe-UFRJ, que aguarda uma proposta séria para entrar em serviço.

Evidentemente, devido à ocupação inexpressiva, o governo estadual tem que subsidiar a operação do sistema, cuja administração foi entregue à Supervia.

Não satisfeito com semelhante fiasco, o governo estadual anunciou a intenção de repetir a dose na recém-liberta Rocinha. Como a extensão prevista é de 2,5 km, uma comparação com o teleférico do Alemão sugere um valor da ordem de R$ 150 milhões.

E, da mesma forma, a opção é condenada por especialistas. Entrevistado pelo RJ-TV, em 23 de novembro, o vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Pedro da Luz, informou que uma equipe do instituto está estudando os problemas da comunidade e destaca que o teleférico não atende às suas necessidades de transporte. Em troca, sugere a instalação de cinco planos inclinados semelhantes ao do morro de Santa Marta, bem mais baratos, dispensando subsídios - e plenamente confiáveis para os futuros usuários.

Mas o que chama a atenção é que para tais projetos não faltaram e, aparentemente, não faltarão o empenho do governador e os recursos federais, nem tampouco os subsídios - o que não se manifestou no caso de um projeto muito mais relevante, como o túnel submarino da Linha 3.

Com uma extensão de 5,5 km, o túnel tem um custo estimado em cerca de R$ 900 milhões, segundo os números fornecidos pelo próprio governador, em fevereiro deste ano, ao anunciar a opção pelo monotrilho (O Fluminense, 2/02/2011). Embora pareça subestimado para uma obra deste porte, tal valor é ínfimo diante dos seus enormes benefícios potenciais: viagens mais rápidas, grande economia de horas gastas em transporte e de combustível, menos poluição, menos engarrafamentos na Ponte e seus acessos e muitos outros.

Com a ligação metroviária integral entre Guaxindiba e a Estação Carioca, o trajeto de 28km seria feito em menos de 40 minutos, contra as duas horas ou mais do trajeto rodoviário. Quanto à opção de levar a linha até a praça Araribóia e deixar a travessia da baía da Guanabara por conta da Barcas S/A., ela não é das mais animadoras, devido aos deficientes serviços prestados pela empresa (vide a sucessão de acidentes e problemas), que alega prejuízos crônicos e a necessidade de subsídios públicos para operar fora do vermelho.

No frigir dos ovos, somando-se a economia dos subsídios às Barcas e aos teleféricos e da suspensão do teleférico da Rocinha, não seria difícil se conseguirem os recursos faltantes para o túnel submarino com o governo federal, talvez junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Um fator relevante, que poderia facilitar a iniciativa, é a já anunciada intenção da Petrobras de participar da construção da Linha 3 - imprescindível para se fazer frente ao aumento da circulação no eixo Rio-Niterói-São Gonçalo-Itaboraí, quando o pólo petroquímico de Itaboraí estiver funcionando, a partir de 2014.

Em suma, o que faz falta não são recursos financeiros, mas visão estratégica e decisão política. E, claro, um pouco de mobilização por parte das lideranças da sociedade fluminense.

Um comentário:

  1. Esta falta de visão é vergonhosa, somadas a falta de vontade política do nosso estado. É inacreditável a ineficiência em resolver as pendências apontadas pelo tcu em relação a linha 3 do metro; enquanto isto, se avizinha o maior nó viário fluminense com o transito de trabalhadores, caminhões, maquinas, escoação da produção, somado aos deslocamentos da população das cidade circunvizinhas ao complexo petroquímico de Itaboraí Rj, Já estamos sofrendo com o caos instalado no transito nas vias de acesso e na ponte Rio-Niterói.
    Estamos perdendo uma excelente oportunidade de solucionar o nó no sistema viário entre Rio X Niterói X São Gonçalo X Itaboraí e outras cidades, que para subsistirem necessitam deslocarem-se entre estas localidades.
    Que vergonha, senhores governantes!!!
    Qual a explicação para este vexame?
    Estou convidando os senhores para utilizarem estas vias, especialmente nos horários de maior circulação.
    Apelo a vossas consciências e as bancadas Estadual, Federal e os Senhores Senadores para olharem para o sofrimento desta parcela importante do Estado em que Senhores foram eleitos para representa-los.
    Chega de Omissão!!!
    Ou carregarão com legado político a nossa indignação, a vossa incompetência em resolve esta pendenga de uma vez por todas.
    Não me faça acredita que os senhores passarão este recibo de incapazes, ineficazes, e falsos representantes do bem publico. É imperdoável!!!
    Imagine quando começa operacionar o Comperj... Com 230 mil postos de trabalho, certamente haverá um gigantesco prejuízo para qualidade de vida, pois os estudos apontam que o numero de veiculo circulando por estas vias aumentaram em 60%, com novos investimentos o setor industrial esta prometendo para os próximos anos.
    Certamente perderemos nossos empregos, perderemos nossas passagens para o nosso lazer, muitos morreram antes de chegarmos aos hospitais, quem contratará um norte fluminense para trabalhar em sua empresa, os nossos filhos diante de tudo isto?
    Foi para isto que os senhores se elegeram?
    Pensava diferente... Mais os fatos não me dão outra opção.
    Faça o favor!!! O tempo urge!!!
    Chega de moleza!!!
    Chega de mediocridade!!! Corrigam urgente o rumo desta historia; o progresso esta chegando e com ele o sofrimento da nossa gente.

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