sábado, 25 de setembro de 2021

RJ estuda projeto de metrô que ligaria a Pavuna, no Rio, até Nova Iguaçu, na Baixada Fluminens


24/09/2021 - G1 RJ

O projeto pretende utilizar o dinheiro do leilão da Cedae e aproveitar um trilho que já corta a região. O governo ainda não tem planejamento detalhado e sofre críticas de especialistas, que afirmam que seria mais eficiente investir no sistema que já existe.

Por Mônica Teixeira, RJ2

Vídeo: RJ quer espécie de VLT ou metrô de superfície da Pavuna até Nova Iguaçu com verba do leilão da Cedae; projeto é criticado

O Governo do Estado do Rio estuda construir um novo sistema de transporte sobre trilhos, que ligaria o bairro da Pavuna, na Zona Norte do Rio, até Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

O projeto, batizado até o momento de Metrô Leve, ainda não tem um planejamento detalhado e sofre críticas de especialistas, que apostariam em investimentos no sistema que já existe.

Segundo o governo, trata-se de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que vai aproveitar o traçado de uma ferrovia que já corta a região, utilizada para trens de carga. A maior parte do investimento viria do dinheiro do leilão da Cedae.

De acordo com o projeto, o novo metrô percorreria um trecho de 23 quilômetros que, segundo o governo, beneficiaria os municípios de São João de Meriti, Nilópolis, Mesquita e Belford Roxo.

O plano dos gestores do estado é atender 370 mil passageiros por dia, com 16 estações no trecho 1 e seis estações no trecho 2. O governo prevê o início das obras para o mês de janeiro de 2022 e a conclusão no prazo de dois anos.

Ex-secretário critica plano

O ex-secretário estadual de Transportes Delmo Pinho, que esteve no cargo até junho deste ano, se diz contra o projeto. Ele afirma que nesse momento de crise é preciso melhorar a estrutura de transporte que já existe.

"As empresas já estão esgotadas. Os concessionários não estão conseguindo prestar um serviço a altura da necessidade do usuário. Então o momento é de preservar o que existe e não de expandir a rede. Não deve ser feita a expansão da rede enquanto essa rede não estiver mais qualificada. Temos o sistema de trens necessitando de muitos investimentos que extrapolam o que está previsto no contrato de concessão", afirma o ex-secretário.

"São 270 quilômetros de linhas. A maior parte delas estão em faixas de domínio sem muro de proteção, sem passarelas suficientes para permitir a travessia segura das pessoas, viadutos para cruzamento de veículos, tem muitos cruzamentos de veículos nas linhas. E esses investimentos são investimentos estruturais que não devem caber ao concessionário e sim ao dono da linha, que é o estado", completa.

Novo Metrô Leve, em estudo pelo Governo do RJ, passaria por trilho que já corta a região entre a capital e Baixada — Foto: RJ2

R$ 250 milhões por quilômetro

O projeto do Metrô Leve foi anunciado em agosto deste ano e seria o maior investimento em transportes previsto pelo governo para os próximos anos. Contudo, as autoridades estaduais ainda não deram maiores detalhes do projeto até o momento.

Apesar de planejar um novo sistema de transportes para ligar a capital a municípios da Baixada Fluminense, no sistema de informações do estado só há dois relatórios sobre o projeto, com apenas quatro páginas.

Os documentos citam que a Secretaria Estadual de Transportes estudou cinco opções de corredores de transportes na Baixada ainda em 2017, na gestão de Luiz Fernando Pezão.

Uma dessas alternativas é o projeto que o atual governo quer tirar do papel. Na época, os gastos para concluir a iniciativa estavam estimados entre R$ 180 e R$ 250 milhões por quilômetro.

O projeto atual teria 23 quilômetros de extensão. Nos valores citados no documento, o investimento poderia variar entre R$ 4 e R$ 6 bilhões. Esse valor é muito maior do que o total que o governo recebeu pelo leilão da Cedae, cerca de R$ 1,7 bilhão.

No entanto, o governo afirma que o projeto é de baixo custo. Em julho deste ano, as autoridades pediram estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental.

Novo metrô ou melhorias na SuperVia

Enquanto o governo aposta em um novo meio de transporte para a Baixada, especialistas acreditam que melhorar o sistema de trens da Supervia seria um uso mais eficiente do dinheiro do leilão da Cedae.

O sistema ferroviário atual conta com 104 estações em 270 quilômetros, que cortam o Rio e a Baixada Fluminense. As linhas apresentam uma série de problemas, como violência, vandalismo e atrasos. Passageiros relatam que a rotina nos trens é marcada por transtornos diários.

Os problemas do transporte sobre trilhos no estado são antigos. Um relatório da Casa Fluminense, organização sem fins lucrativos que discute políticas públicas para o Rio, identifica as principais falhas do sistema e apresenta recomendações para que os trens se tornem um meio de transporte mais eficiente. O documento foi entregue ao secretário estadual de Transportes, Juninho do Pneu.

Uma das propostas é modernizar as 104 estações da Supervia com parte dos recursos que o estado recebeu com o leilão da Cedae. O dinheiro seria usado para nivelar os trens aos padrões do Metrô, em questões de segurança, conforto, acessibilidade e respeito aos horários.

Na opinião do coordenador-geral da Casa Fluminense, Henrique Silveira, a criação de um novo sistema não deveria ser prioridade do governo.

"A gente entende que a construção dessa linha de metrô não é prioridade no atual momento de crise do sistema de transportes no Rio. O governo do estado ainda tem que elaborar um projeto executivo para ter em detalhes como vai ser essa obra, então a gente ainda não tem acesso ao projeto detalhado", argumentou.

"A gente tem que evitar construir mais uma linha paralela para concorrer com os ramais que já existem e reduzir a demanda deles", concluiu Henrique.

Para o diretor da Fundação Getúlio Vargas, Marcus Quintella, especialista em transportes, antes de lançar qualquer novo projeto é preciso realizar um estudo de demanda e definir qual tipo de transporte pode atender melhor a região.

"O que define um projeto de linha de metrô é o estudo de demanda, é esse estudo que vai definir qual tipo de metrô será adequado para uma região. E dentro de um planejamento. Esse Metrô Leve, pelo que me consta, não está dentro de um planejamento que vem sendo seguido na Região Metropolitana do Rio. Não sei os detalhes, o traçado, então fica difícil avaliar, mas acho que independente disso, tudo tem que começar com um estudo de demanda", disse Quintella.

O que diz o governo

O Governo do Estado do Rio afirmou que o projeto do Metrô Leve da Baixada foi estudado pela Secretaria de Transportes e da Casa Civil e a Câmara Metropolitana, e está previsto no Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado.

O governo disse ainda que projetos de investimentos na melhoria dos atuais sistemas acontecem em paralelo, como o projeto de bilhetagem eletrônica e obras como a construção de passarelas. A SuperVia disse que isolar a via férrea é essencial para a melhoria dos serviços e que já elaborou e enviou ao governo um projeto inicial sobre a construção de passarelas e muros.

A MRS, empresa de transporte de cargas que opera na ferrovia disse que está avaliando com o governo do estado as possibilidades. Afirmou que compartilhar a mesma linha para trens de cargas e passageiros é algo descartado, e que a linha do trem de carga é de responsabilidade do governo federal.









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