28/06/2017 - O Globo
POR RICARDO NEVES
Inovação nos leva para um futuro melhor e mais desejável. Desinovação é um desmonte que nos remete a um passado que não gostaríamos de retornar.
O foco deste meu blog é predominantemente inovação. No caso da mobilidade urbana, por exemplo, há algumas semanas fiz aqui um post falando muito bem da inovação VLT – o bonde moderno – que foi reintroduzido na paisagem urbana brasileira.
Pois é, a crise e a degradação que vai tomando conta do Rio vai chegando ao metrô, onde está acontecendo aquilo que chamo de desinovação.
O metrô no Rio de Janeiro foi sempre um exemplo de serviço e espaço público operado com eficiência e respeito pelos clientes.
Inclusive tornou-se conhecida a expressão “efeito metrô”, que sintetiza a política da concessionária de induzir uma atitude positiva dos passageiros substituindo imediatamente qualquer equipamento ao menor sinal de vandalismo ou quebra, seja banco, luminária, vidro ou limpando grafites nas paredes das composições ou dos corredores do metrô e até mesmo removendo chicletes do chão.
Essa política é que faz com que o mesmo passageiro, que vandaliza o trem suburbano ou o ônibus, quando dentro do metrô se sinta valorizado e assume outra atitude mais social e construtiva.
Mas agora os sinais são evidentes de que a crise do Rio de Janeiro está mostrando sua cara também no metrô.
Desde os Jogos Olímpicos os sinais foram aumentando, aumentando e agora já não dá mais para viajar sem conspícua e barulhenta companhia de músicos, cada vez mais mambembes e cada vez menos artistas, nem tampouco sem ouvir vendedores e também pedintes.
Infelizmente o metrô caminha para se equiparar ao ambiente padrão do sistema ferroviário que serve aos subúrbios, aquele que leva hoje o nome de Supervia e que – fique sabendo – é uma empresa Odebrecht.
No trem os camelôs se enfileiram um atrás do outro desfilando com suas mercadorias sem se incomodar com qualquer tipo de repressão. Lá o comércio ambulante é livre, amplo, geral e irrestrito. Vendem-se desde picolés a fraldas geriátricas.
É bem verdade que no metrô ainda não vi os pregadores religiosos, que seguem o modelo de profetas do Apocalipse, que são comuns nos trens suburbanos. Mas do jeito que as coisas vão indo, podemos chegar lá em breve.
Indagados sobre essa situação os metroviários dizem que o que agrava o problema é o fato de que os passageiros são contrários à repressão. Muita gente alega ter pena dos mendigos e vendedores – coitados não estão roubando! E em relação aos músicos, existe gente que também não vê problema, afinal são apenas “jovens que alegram a viagem”.
O saldo é que cada vagão metroviário vai se tornando um espaço no qual passageiros vão sendo espremidos na competição entre artistas, que como eu disse acima, são cada vez menos talentosos e cada vez mais barulhentos, vendedores e pedintes.
Quase na terceira década do século XXI o metrô desinova e vai virando uma mistura mambembe de circo e mercado. Pena! :-(
http://blogs.oglobo.globo.com/ricardo-neves/post/metro-no-rio-vai-sendo-tomado-por-artistas-mambembes-ambulantes-e-pedintes.html
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