17/11/2015 - O Dia
Abaixo da Carioca, metrô tem área com plataforma que nunca foi usada
GUSTAVO RIBEIRO
Rio - Cadeiras, latas de tinta e garrafas de plástico continuam intocadas, do jeito que foram deixadas há 34 anos. Como se o tempo tivesse parado por ali, ainda há canos, uma bomba d’água, peças de uma escada rolante nunca instalada e placas na cor laranja, que indicariam onde seria a baldeação da Linha 2 para a Linha 1. Atenção, senhores passageiros: vamos explorar as profundezas mais ocultas da estação Carioca do metrô.
Por trás da porta de acesso, há uma área esquecida. A entrada só foi sinalizada pelo MetrôRio no último mês de agosto
Foto: Divulgação / Luiz Henrique Barroso
Desde 1981, quando as obras da estação terminaram, uma plataforma localizada a 40 metros de profundidade da Avenida Chile (15 metros abaixo das plataformas atuais) está pronta, com acabamento em pastilhas nas paredes. Mas ficou sem uso durante todo esse tempo, já que ali seriam realizados o embarque e o desembarque da Linha 2, cujo projeto original, de 1968, que previa a ligação Estácio — Carioca — Praça 15, nunca foi concluído.
Os detalhes da plataforma fantasma foram revelados por três amigos que visitaram o lugar na última sexta-feira e divulgaram seus relatos na internet. A intenção do grupo era dar à população a noção do desperdício para que as pessoas pressionem o governo para conclusão da obra.
No subterrâneo escondido da Estação Carioca repousam estruturas para a colocação de escadas rolantes, paredes com acabamentos em pastilhas e 100 metros de túneis
Foto: Divulgação / Luiz Henrique Barroso
O jornalista e administrador Miguel Gonzalez, 38 anos, expressou suas impressões sobre o passeio no blog “Metrô do Rio”, que escreve há sete anos. “Encontramos mais do que esperávamos. A estrutura da estação está toda escavada e construída. As salas internas, de segurança, de repouso, de manutenção, refeitório e banheiros para funcionários estão prontos”, contou ele, lembrando que o projeto foi modificado, e a estação abandonada, por falta de recursos na época.
Vigas sobre a plataforma
Foto: Divulgação / Luiz Henrique Barroso
“Além das plataformas, há mais uns 100 metros de túnel em direção à Rio Branco. Os acessos ao mezanino da estação e à plataforma da Linha 1 estão prontos. As escadas foram construídas. Só faltou colocar as escadas rolantes (os espaços estão reservados para tal) e abrir as paredes”, detalhou, lembrando que dois terços da estação ainda precisariam ser concluídos.
Segundo o engenheiro Luiz Henrique Barroso, 35, o refeitório citado por Miguel tem o tamanho de uma quadra de futebol de salão. “Pena que jamais tenha sido servida uma refeição ali”, lamenta. Ele brigou por dois anos pela autorização para conhecer o ‘esconderijo’. Chegou a recorrer à Controladoria-Geral da União, alegando direito ao acesso de informações públicas, sem sucesso. Ganhou recentemente a simpatia do secretário de Transportes, Carlos Roberto Osorio, e conseguiu.
Ligação Estácio-Carioca-Praça 15
Foto: Arte: O Dia
A Linha 1A (ligação São Cristóvão - Cidade Nova - Central, criada em 2009 para acabar com a baldeação no Estácio) nunca existiu no projeto. Vários engenheiros sinalizaram que a solução para reduzir os intervalos e acabar com os congestionamentos era concluir a Linha 2”, lembra Luiz Henrique, autor da página do Facebook “Aguardando Liberação do Tráfego à Frente”. Também visitou o local o estudante Atílio Flegner, 21.
O engenheiro de Transportes Fernando Mac Dowell ressalta que o projeto original do metrô previa intervalos de 100 segundos na linha 2, que teoricamente opera com intervalos de 4 minutos, quando não há atrasos. “O problema é que uma linha funciona com piloto automático e a outra, não. Os intervalos não são mantidos e chegam a 8 minutos às vezes. Isso seria resolvido separando as duas linhas”, afirma.
De acordo com MacDowell, um dos responsáveis pelo projeto do metrô, a estação toda custou cerca de R$ 300 milhões em valores atualizados. O governador Luiz Fernando Pezão já afirmou que vai dar sequência às obras da Linha 2 até a Praça 15 a partir do ano que vem, quando for concluída a Linha 4. Procurada, a Secretaria Estadual de Transportes não se manifestou. Os aventureiros acessaram uma das escadas que conduzem ao local por meio de uma porta localizada no início da plataforma lateral da linha 1, sentido Ipanema.
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