Tatuzão ainda não tem data para voltar a escavar Linha 4 do Metrô

04/08/2014 - O Globo

RIO - Moradores de Ipanema terão de aguardar mais um pouco para se livrar dos transtornos das obras da Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra). O retorno das atividades do tatuzão, equipamento que perfura o subsolo, ainda não tem data definida. O equipamento parou de ser utilizado, depois que houve afundamento de solo na madrugada de 11 de maio. A previsão inicial era que as escavações fossem retomadas em 20 julho. Na última sexta-feira, moradores da Rua Barão da Torre receberam a notícia de que as intervenções de reforço no subsolo devem se estender por mais 60 dias.

Ao GLOBO, a assessoria do consórcio informou que a estimativa é que, até o fim de agosto, os trabalhos sejam concluídos, possibilitando a reativação do tatuzão com atraso de, pelo menos, um mês. Este prazo, entretanto, pode ser alterado - antecipado ou postergado - conforme a análise diária da obra, acrescenta o consórcio.

Enquanto o "imbróglio" persiste, moradores lamentam a falta de informações precisas. O jornalista Gilberto Menezes Côrtes, que mora desde 1973 na Barão da Torre, disse que engenheiros das obras afirmaram aos moradores ser necessária a aplicação de reforços extras no subsolo.

- Acredito que o cronograma da obra possa ficar comprometido. Esse atraso implica muitos transtornos para nós, moradores. Estou reformando um apartamento para alugar, mas o preço está em queda. O tatuzão está encalhado na esquina da Farme de Amoedo com Barão da Torre. Se tudo estivesse correndo bem, era para estar no Jardim de Alah.

De acordo com o consórcio, o processo de recuperação estrutural é interativo e, a cada injeção de concreto, é feita uma nova análise do estado do terreno. A escavação com tatuzão será reiniciada com cem por cento de segurança para a população, acrescentam as empreiteiras.

DE IPANEMA À BARRA EM 15 MINUTOS

Objeto de inúmeros questionamentos ao longo dos últimos anos, a Linha 4 do metrô do Rio (Barra da Tijuca — Ipanema) vai transportar, a partir de 2016, mais de 300 mil pessoas por dia e retirar das ruas cerca de dois mil veículos por hora, em momentos de pico. Com a nova linha, o passageiro poderá utilizar todo o sistema metroviário da cidade com uma única tarifa. Serão seis estações (Jardim Oceânico, São Conrado, Gávea, Antero de Quental, Jardim de Alah e Nossa Senhora da Paz) e aproximadamente 16 quilômetros de extensão.

Orçada em R$ 8,5 bilhões, a Linha 4 do metrô entrará em operação no primeiro semestre de 2016, após passar por uma fase de testes. De acordo com o governo do estado, será possível ir da Barra a Ipanema em 15 minutos. E da Barra ao Centro, em 34 minutos.

Após cerca de quatro meses para ser montado, o Tunnel Boring Machine (equipamento conhecido como tatuzão) começou a operar em dezembro do ano passado. Ele tem 2,7 mil toneladas, 120 metros de comprimento e 11,5 metros de diâmetro.

Em 11 de maio passado, duas crateras se abriram na Rua Barão da Torre, causando temor entre os moradores. O local do afundamento foi o mesmo em que o tatuzão estava operando. No número 138 da rua, partes da calçada e do piso da garagem quebraram, e um portão emperrou. Em pelo menos outros três imóveis da Barão da Torre, moradores mostraram rachaduras e trincas, de diferentes tamanhos, em área de acesso, garagem e pátios. Segundo o consórcio Linha 4 Sul, o problema foi causado por um assentamento de solo, e a situação foi logo controlada. Ainda de acordo com o consórcio, não há qualquer risco de desabamento de prédios.

ENTREGA DA OBRA NÃO SOFRERÁ ATRASO

Apesar dos contratempos, o consócio Linha 4 Sul mantém o prazo para início de operação do trecho: primeiro semestre de 2016. O consórcio Linha 4 Sul (formado pelas empreiteiras Odebrecht Infraestrutura, Queiroz Galvão e Carioca Engenharia) é responsável pela implantação da Linha 4 entre Ipanema e Gávea. Já o consórcio Construtor Rio Barra (Queiroz Galvão, Odebrecht Infraestrutura, Carioca Engenharia, Cowan e Servix), pelo trecho entre Barra da Tijuca e Gávea.

Moradores e comerciantes das ruas Farme de Amoedo e Barão da Torre, no entanto, andam preocupados com possíveis atrasos no cronograma e reclamam dos transtornos financeiros e psicológicos causados pelos tapumes. Subgerente de um restaurante no número 102 da Farme de Amoedo, Erisvelton Braga afirma que o movimento de clientes caiu cerca de 40% desde o início do ano.

— O pessoal diz que tem medo de frequentar o restaurante, principalmente depois do afundamento do solo. A parede do restaurante rachou. Eles (consórcio) falaram que vão consertar depois que o reparo no subsolo for feito. O canteiro de obras está bem na porta do restaurante, e isso é muito ruim.

Moradora da Barão da Torre, Esther Benjó critica a demora na solução dos problemas. Na mesma linha, o jornalista Gilberto Menezes Côrtes cobra mais transparência:

— Faltam informações claras sobre o que está acontecendo.

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