17/03/2013 - O Globo
Sistema de transporte conta com 35 estações e opera no limite Usuários criam estratégias para fugir da superlotação
TAÍS MENDES
Passageiros reclamam de superlotação nos trens. Na foto, a estação de Botafogo cheia - Agência O Globo / Pedro Kirillos
RIO - Quando as portas se abrem, homens, mulheres, idosos e crianças correm, aos trancos, quase uns por cima dos outros, para tentar conseguir um bom lugar. Em pé, claro, porque não há mais onde se sentar quando o metrô chega à Pavuna, estação terminal da Linha 2, onde, teoricamente, os passageiros deveriam embarcar num trem vazio, com toda calma. Mas o sufoco diário que é andar de metrô no horário do rush obriga as pessoas a criarem estratégias para o transporte, que opera no limite, levando diariamente uma média de 650 mil passageiros, como mostra O GLOBO na segunda reportagem da série Imobilidade urbana. Ozeas Leal, de 31 anos, embarca todos os dias, por volta das 6h, em Vicente de Carvalho, e anda seis estações para trás, até a Pavuna, para conseguir lugar no trem:
Acordo uma hora antes, levo mais 40 minutos de viagem, mas chego ao trabalho.
Ele não é o único. Às 6h, a estação de Coelho Neto já está lotada, mas não na plataforma de embarque para o Centro, como seria natural. Quando o trem sentido Pavuna chega, todos embarcam e tratam logo de pegar um lugar. O cenário é o mesmo nas estações Colégio, Acari, Fazenda Botafogo e Engenheiro Rubens Paiva. Quem não consegue mais assento procura se posicionar em algum lugar, pois sabe que, ao chegar à Pavuna, não conseguirá mais se mover.
É a volta dos que não foram brinca Oscar Silva, um senhor que, ao embarcar na Pavuna, já encontra o trem sem assentos disponíveis.
Defeitos constantes em elevadores
A estudante de odontologia Karine Caldas Pinto, de 23 anos, explica a curiosa estratégia.
Não é só pelo conforto de ir sentada. Se não fizer assim, nem consigo entrar no vagão de tão lotado que ele chega diz a jovem, que embarca em Coelho Neto, segue até a Pavuna, três estações depois, para então voltar em direção à Cidade Nova, onde finalmente desembarca.
O jeitinho não serve para quem embarca no ponto final, na Pavuna, mas esses passageiros já desenvolveram suas próprias táticas.
Quando embarco na Pavuna, já fico perto da porta, para saltar em Acari. De lá, volto para a Pavuna num trem mais vazio. Também não consigo sentar, mas, pelo menos, fico perto de algum ferro para me segurar, ou encostada na parede, que é mais seguro conta Valéria Lima, moradora da Pavuna que trabalha no Centro.
O sufoco dentro dos vagões não é o único problema enfrentado pelos passageiros do metrô. Os usuários também reclamam das frequentes paralisações no sistema, o que aumenta o intervalo entre os trens e lota as plataformas de embarque. No dia 28 de janeiro, centenas de passageiros ficaram presos, por mais de uma hora, dentro dos vagões, devido a uma pane. Depois de liberados, alguns tiveram de caminhar sobre os trilhos, pelos túneis escuros, até a plataforma mais próxima. Oito estações da Zona Sul ficaram fechadas em pleno rush da manhã.
Outros pontos nevrálgicos são o ar-condicionado dos trens especialmente dos antigos, já que os novos têm um sistema mais potente , e equipamentos como escadas rolantes e elevadores, que dão defeito constantemente, dificultando o acesso de idosos e pessoas com deficiência. Marina Vieira Alves, de 40 anos, mãe de Vitória, de 14, cadeirante, não poupa críticas:
Os elevadores vivem quebrados. Há pouco tempo, o da Estação Flamengo não estava funcionando. Tive que subir com a cadeira pela escada rolante, sem a ajuda de funcionários. Não fossem os passageiros, a cadeira teria tombado.
Na última quarta-feira, Marina só conseguiu entrar com a filha num trem superlotado em direção ao Centro, em pleno horário do rush, graças à boa vontade dos passageiros:
É sempre um sufoco para entrar. E nunca tem ninguém do metrô para ajudar.
Inaugurado em 5 de março de 1979, o metrô do Rio não conseguiu nunca ir muito longe. Depois de 34 anos, conta com apenas duas linhas, 40,2 quilômetros de trilhos e 35 estações, das quais 34 estão em funcionamento, já que General Osório, em Ipanema, está fechada para as obras da Linha 4, que ligará a Zona Sul à Barra.
A frota atual é de 42 trens, sendo dois reservas. Desse total, 15 são modelos novos, comprados na China; outros quatro estão em fase de teste.
Até o ano passado, o sistema operava com uma grade de 32 trens, de seis e cinco carros. Hoje, devido à interdição da Estação General Osório, operamos com 42 trens de seis carros, um aumento de 30% de oferta, e não tivemos aumento de passageiros no ano passado. A média de usuários é de 650 mil em dias úteis, a mesma de agosto do ano passado afirma Joubert Flores, diretor de engenharia da Metrô Rio, concessionária que, em abril de 1998, assumiu o serviço, até então administrado pelo estado.
É cheio, mas está na média, diz executivo
Flores, que afirma conhecer a realidade do sistema metroviário na hora do rush, garante que ainda cabem mais passageiros nos trens:
A capacidade do trem é de seis passageiros por metro quadrado, e operamos em torno de cinco. É cheio, mas está dentro da média, que é a mesma utilizada em outros metrôs do mundo. Não é para ser sufoco, mas não é para ser vazio.
No vaivém diário, o metrô está sempre correndo atrás do prejuízo. Em 21 de dezembro de 2009, quase 40 anos depois de iniciadas as obras do trecho inicial entre Tijuca e Ipanema, os trens finalmente chegaram à Praça General Osório, estação que está sendo quebrada agora para permitir a ampliação não prevista do sistema. Na época, o metrô transportava 550 mil pessoas por dia, no limite de sua capacidade.
Por mais de três décadas, o metrô circulou com o mesmo número de trens. Até que veio a promessa de compra de novos vagões. O primeiro desembarcou no Porto do Rio em abril de 2012, com um atraso de um ano e meio. Os outros foram chegando aos poucos. De acordo com a concessionária, até o dia 28 deste mês todos os 19 trens que custaram à empresa R$ 320 milhões estarão em condições de operar. A frota só não circulará com a capacidade total devido às obras na Praça General Osório.
O dia em que todos os trens estiverem na grade, conseguiremos ter um intervalo próximo de quatro minutos, reduzindo a lotação. O intervalo hoje já é bem menor. No ano passado, era de seis minutos e, atualmente, está em 4,35 minutos nos horários de pico afirma o diretor da concessionária.
Sistema de transporte conta com 35 estações e opera no limite Usuários criam estratégias para fugir da superlotação
TAÍS MENDES
Passageiros reclamam de superlotação nos trens. Na foto, a estação de Botafogo cheia - Agência O Globo / Pedro Kirillos
RIO - Quando as portas se abrem, homens, mulheres, idosos e crianças correm, aos trancos, quase uns por cima dos outros, para tentar conseguir um bom lugar. Em pé, claro, porque não há mais onde se sentar quando o metrô chega à Pavuna, estação terminal da Linha 2, onde, teoricamente, os passageiros deveriam embarcar num trem vazio, com toda calma. Mas o sufoco diário que é andar de metrô no horário do rush obriga as pessoas a criarem estratégias para o transporte, que opera no limite, levando diariamente uma média de 650 mil passageiros, como mostra O GLOBO na segunda reportagem da série Imobilidade urbana. Ozeas Leal, de 31 anos, embarca todos os dias, por volta das 6h, em Vicente de Carvalho, e anda seis estações para trás, até a Pavuna, para conseguir lugar no trem:
Acordo uma hora antes, levo mais 40 minutos de viagem, mas chego ao trabalho.
Ele não é o único. Às 6h, a estação de Coelho Neto já está lotada, mas não na plataforma de embarque para o Centro, como seria natural. Quando o trem sentido Pavuna chega, todos embarcam e tratam logo de pegar um lugar. O cenário é o mesmo nas estações Colégio, Acari, Fazenda Botafogo e Engenheiro Rubens Paiva. Quem não consegue mais assento procura se posicionar em algum lugar, pois sabe que, ao chegar à Pavuna, não conseguirá mais se mover.
É a volta dos que não foram brinca Oscar Silva, um senhor que, ao embarcar na Pavuna, já encontra o trem sem assentos disponíveis.
Defeitos constantes em elevadores
A estudante de odontologia Karine Caldas Pinto, de 23 anos, explica a curiosa estratégia.
Não é só pelo conforto de ir sentada. Se não fizer assim, nem consigo entrar no vagão de tão lotado que ele chega diz a jovem, que embarca em Coelho Neto, segue até a Pavuna, três estações depois, para então voltar em direção à Cidade Nova, onde finalmente desembarca.
O jeitinho não serve para quem embarca no ponto final, na Pavuna, mas esses passageiros já desenvolveram suas próprias táticas.
Quando embarco na Pavuna, já fico perto da porta, para saltar em Acari. De lá, volto para a Pavuna num trem mais vazio. Também não consigo sentar, mas, pelo menos, fico perto de algum ferro para me segurar, ou encostada na parede, que é mais seguro conta Valéria Lima, moradora da Pavuna que trabalha no Centro.
O sufoco dentro dos vagões não é o único problema enfrentado pelos passageiros do metrô. Os usuários também reclamam das frequentes paralisações no sistema, o que aumenta o intervalo entre os trens e lota as plataformas de embarque. No dia 28 de janeiro, centenas de passageiros ficaram presos, por mais de uma hora, dentro dos vagões, devido a uma pane. Depois de liberados, alguns tiveram de caminhar sobre os trilhos, pelos túneis escuros, até a plataforma mais próxima. Oito estações da Zona Sul ficaram fechadas em pleno rush da manhã.
Outros pontos nevrálgicos são o ar-condicionado dos trens especialmente dos antigos, já que os novos têm um sistema mais potente , e equipamentos como escadas rolantes e elevadores, que dão defeito constantemente, dificultando o acesso de idosos e pessoas com deficiência. Marina Vieira Alves, de 40 anos, mãe de Vitória, de 14, cadeirante, não poupa críticas:
Os elevadores vivem quebrados. Há pouco tempo, o da Estação Flamengo não estava funcionando. Tive que subir com a cadeira pela escada rolante, sem a ajuda de funcionários. Não fossem os passageiros, a cadeira teria tombado.
Na última quarta-feira, Marina só conseguiu entrar com a filha num trem superlotado em direção ao Centro, em pleno horário do rush, graças à boa vontade dos passageiros:
É sempre um sufoco para entrar. E nunca tem ninguém do metrô para ajudar.
Inaugurado em 5 de março de 1979, o metrô do Rio não conseguiu nunca ir muito longe. Depois de 34 anos, conta com apenas duas linhas, 40,2 quilômetros de trilhos e 35 estações, das quais 34 estão em funcionamento, já que General Osório, em Ipanema, está fechada para as obras da Linha 4, que ligará a Zona Sul à Barra.
A frota atual é de 42 trens, sendo dois reservas. Desse total, 15 são modelos novos, comprados na China; outros quatro estão em fase de teste.
Até o ano passado, o sistema operava com uma grade de 32 trens, de seis e cinco carros. Hoje, devido à interdição da Estação General Osório, operamos com 42 trens de seis carros, um aumento de 30% de oferta, e não tivemos aumento de passageiros no ano passado. A média de usuários é de 650 mil em dias úteis, a mesma de agosto do ano passado afirma Joubert Flores, diretor de engenharia da Metrô Rio, concessionária que, em abril de 1998, assumiu o serviço, até então administrado pelo estado.
É cheio, mas está na média, diz executivo
Flores, que afirma conhecer a realidade do sistema metroviário na hora do rush, garante que ainda cabem mais passageiros nos trens:
A capacidade do trem é de seis passageiros por metro quadrado, e operamos em torno de cinco. É cheio, mas está dentro da média, que é a mesma utilizada em outros metrôs do mundo. Não é para ser sufoco, mas não é para ser vazio.
No vaivém diário, o metrô está sempre correndo atrás do prejuízo. Em 21 de dezembro de 2009, quase 40 anos depois de iniciadas as obras do trecho inicial entre Tijuca e Ipanema, os trens finalmente chegaram à Praça General Osório, estação que está sendo quebrada agora para permitir a ampliação não prevista do sistema. Na época, o metrô transportava 550 mil pessoas por dia, no limite de sua capacidade.
Por mais de três décadas, o metrô circulou com o mesmo número de trens. Até que veio a promessa de compra de novos vagões. O primeiro desembarcou no Porto do Rio em abril de 2012, com um atraso de um ano e meio. Os outros foram chegando aos poucos. De acordo com a concessionária, até o dia 28 deste mês todos os 19 trens que custaram à empresa R$ 320 milhões estarão em condições de operar. A frota só não circulará com a capacidade total devido às obras na Praça General Osório.
O dia em que todos os trens estiverem na grade, conseguiremos ter um intervalo próximo de quatro minutos, reduzindo a lotação. O intervalo hoje já é bem menor. No ano passado, era de seis minutos e, atualmente, está em 4,35 minutos nos horários de pico afirma o diretor da concessionária.
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